Wednesday, February 15, 2017

O olhar

O olhar passeava pelo infinito cinza emoldurado pela janela. O olhar vagava sem rumo, não registrando detalhes... aquele olhar preso na poltrona daquele ônibus que a levava para o futuro...

Ansiedade, claro. "O futuro a Deus pertence", dizia sua avó. Fácil pra ela falar, alguém que viveu a vida toda no mesmo lugar, na mesma casa, na mesma vila... Só que eu... Comigo, a incerteza como companheira, acreditar piamente nisso era um pouco mais complicado...

Uma pitada de medo, um tanto de tristeza, expectativa. A coragem também fazia sua aparição. No infinito cinza emoldurado pela janela, tela imaginativa embaçada pelo ar que lhe saia da boca, imagens diversas passavam... Sua mãe em lágrimas, seu pai se fazendo de forte, com o rosto vermelho, seu irmão mais novo tentando entender o que estava acontecendo...

Se nem eu sei o que será de mim! Um garoto de dez anos muito menos. Na minha idade... na minha idade... Desvio o olhar e contemplo os rostos adormecidos. Quisera eu dormir assim, entregue ao balanço do ônibus naquela estrada vazia. Vazio... Isso, preciso esvaziar minha mente...

Mas você sabe o quanto isso é difícil, não é? Pra mim então... Há um relógio em mim, tic tac... tic, tac... O tempo não é natural, dias e noites não são um ciclo pra mim. O futuro a que me referi é um hospital super ultra mega moderno em São Paulo. Tenho 20 anos e há dez não durmo.

P.S. Texto feito a partir de uma proposta de produção dos meus alunos do 9º ano.

2 comments:

  1. uau Cassia, que lindo. Parabéns. Belo texto. Invista, persista.. e segue... Estás no caminho certo.

    ReplyDelete